C
orpo deitado na penumbra do saber,
Orgulhosa, olhando as estrelas em flor,
Recortando cada sorriso de prazer
Pela estrada estrelada cheia de vida e sabor,
Olha terna, repousada sobre as ervas, o céu,
Amando o campo e cada estrela no mesmo sorriso,
Luz-lhe uma rosa longínqua e aconchega o véu,
Mantendo a forma dos lábios num único riso,
Apetecendo sentir a aragem no corpo e nos sonhos arrecadados,
Enlaça-se por entre os astros carentes
Passando as mãos nos cabelos doirados,
Olha a rosa de tons vermelhos ferventes,
Estende-lhe as mãos e mistura-se com ela,
Sentindo-a e crendo na pureza que ali jaz,
Indo além dos sonhos percebeu porque era bela,
A rosa era senão a própria paz.
João Amendoeira Peixoto
A
bri a janela e escrevi um pensamento.
Materializei em letras e papel, e descrevi,
O que via, desenhei o movimento,
Risquei, rasguei, reescrevi,
Puramente, nos recantos da mente há um vazio pronto,
Uma quantidade de palavras que se somam
Renascendo e abrindo como pétalas de um sonho esquecido e tonto
Ornamentado de rosas envolventes que aromatizam,
É instinto, é par, é perfeito Impossível que seja imperfeito,
Mesmo entre palavras despercebidas,
O poema é sempre um rasgar de palavras perdidas,
Respirar entre sentidos que sufocam
Tocando em sons ecoados de noites escritas,
Amando amuadas feridas que cortam,
Lentamente, são a inspiração dos artistas.
João Amendoeira Peixoto
in Apologia, Folheto Edições, 2009.
Oh horas
Oh horas de outros dias, de outras noites,
Oh horas, de outra hora,
Que foram beijos, que foram lágrimas,
Que foram dor, que foram embora,
Horas que contemplaram serenidade,
Horas de paixão, de outrora,
De sonhos, perdão e amizade,Horas em vão, horas de agora,
Horas de música, de olhar nos olhos até à paixão,
De guitarra eléctrica, horas de berimbau
Horas de microscópio óptico, de recordação,
Horas de mão na mão, de açúcar e sal,
Porque no meio das horas, há fisiologia,
Há dor e sofrimento, há a complexidade da coisa
Há matemática do universo, poesia molecular, biologia
Há a paixão dos sonhos, das coisas belas e de amar, para que alguém nos oiça.
João Peixoto (poema e fotografia)