A
cordei, abri a janela, e como suspiros suspensos e silenciosos
Pairavam na paisagem flocos dóceis cheios de brancura
E ternura que iluminavam esplendorosos
O nosso sorrir com tanta sã frescura,
Tanto tempo
Depois de tanto tempo,
A minha pequena cidade de antigos cavaleiros e navegadores
Voltou a ser branca num Domingo cinzento
De beleza tanta e brancos esplendores.
João Peixoto
O
dia está sonolento, atroz e encrespado.A aguardente levita sobre a mesaO papagaio colorido resmunga na gaiola fechadoE a dama na cama, vale-lhe a dor de cabeça:A ressaca vai ser dura.Lamenta-se, nos lençóis, embrulhada,Depois, mete café na máquina como se fosse a cura,O cheiro a café enche a casa agora aromatizada,E é tão intenso que tem de abrir a janela do telhadoCercada por gatos deitados, brancos e pretosQue descobriram o paraíso da preguiça e do feriadoDepois de uma noite barulhenta e de tropeços.Foi mesmo uma grande bebedeira.Continua em lamechas enjoadas e meio irónicas cheias de razãoAo mesmo tempo que se tenta lembrar do dia anteriorE adivinhar o porquê dos morangos espalhados pelo chãoE do abacaxi cortado aos bocados cheios de açúcar e espalhados pelo corredor.João Peixoto (poema e fotografia)