A
s sombras do meu jardim são indecisas,as árvores dão frutos desconhecidos e suculentos,há memórias no ar, aves nativas,palavras perdidas, constelações e esquecimentos,no meu jardim não há estações(as árvores tanto se vestem como se despem),o vento leva em fuga as emoçõesque sopram nos ramos e as flores florescem,ali pairam transparentes os sentimentos,mãos amigas, lágrimas que sorriem,chuviscos delicados que reflectem momentos,rimas que fogem e riem,no ar há de tudo um pouco:velas apagadas, dor, luzes e teoriastudo o que sei e não sei, calma e sufoco(as tristezas e as alegrias),abraçam-se as árvores pelos ramos,fazem-se sinapses, criam-se ideiasdizem-se verdades, mentiras, planos(dos meus sonhos saem coisas belas e feias)nos meus sonhos desfilam nuvense pássaros de ninguém,desfila o silêncio em aragensque se fundem comigo, (ao amar, com mais alguém),no meu jardim eu desenho as palavrascom a régua e o compasso,dou-lhes a cor, o brilho e dádivas,dou-lhes sentido, e se não gostar, desfaço.No lago do jardim, estão recordações,restos de ausência,palavras reflectidas em emoções, ilusõesesquecidas, conquistadas (ou fragmentadas de aparência),no ar, há também música, notas, sons, muitas canções
Depois à noite, uma intensa nebulosa, ao sabor de violinos e fado,de todas as cores, preenche todos os padrões,e o meu jardim fica iluminado.João Amendoeira (Poesia e Fotografia)in I Antologia de Poetas Lusófonos, Folheto Edições, 2007.