Das mãos como sede
Madrugo como quem o destino escreve
e procura de pé seu sonho mais verde
como a noite serena e breve
não resta ao mundo que entender
de me entender onde não estão
os próprios que devem entender
os pássaros e o sentido da paixão,
das mãos como sede
madrugo meu próprio voo, a vida,
abrindo no resguardo, as asas, o sonho mais verde,
abre, o silêncio do vazio da partida,
lá do cimo das raízes desta madrugada por morrer,
a vida, convoquei meus sonhos em bandos
nas árvores falantes que me viram nascer,
para termos tantos caules quanto anos.
João Amendoeira
in Poiesis XVII, Editorial Minerva, 2009.